Só tinha certeza de uma coisa: eu quero correr uma maratona.
Foi com este pensamento que no final de 2014, eu perguntei ao meu treinador Claudio Castilho o que ele achava sobre a maratona de Amsterdam.
Eu precisava de mudanças… como perder peso e ficar mais forte…
2015 entrou, 283 dias para preparar a cabeça, o corpo e a alma… preocupada em treinar bem , evitar lesões e fazer uma prova bem, independente do tempo, o objetivo era terminar.
Os treinos da maratona começaram no final de julho.
O grupo que faria maratona no Segundo semestre era grande e com certeza eu além de novata era a mais lenta, terminaria todos os treinos por último. A frase “não tenha pressa de terminar seu treino” dita pela Silmara Castilho foi perfeita.
E lá fui eu pra encarar a primeira semana de treino da maratona… de cara na quarta 10 tiros de 1km e no sábado 28km… sobrevivi.
E assim seguiram as semanas de treinos, junto com sessões de fisioterapia… quadril, panturrilhas e pés já carregavam pequenas lesões anteriores, e consulta na nutricionista.
Calor, chuva, dores, cabeça… nada me fez abandonar um treino, por mais desafiador que fosse… eu estava determinada.
Vivi cada treino, sem pensar no próximo, sem pressa, sem medo, enfrentando as novas distâncias. Sempre começo uma corrida com a seguinte frase: “daqui a pouco acaba”.
Meus treinadores me corrigiam, exigiam o máximo do meu esforço e eu queria corresponder… ouvia e tentava fazer exatamente o que me pediam, por mais que aquilo as vezes me irritasse … e como irritava kkkkkk.
Eu vibrava por dentro com cada treino feito, e as semanas passavam.
Chegou o temido e tão falado treino de 36km… já tinha feito 32 e 34km…mas os 36km eu só era expectadora… agora eu era a protagonista. A preocupação era as condições climáticas, calor é meu ponto fraco… 26/09 amanheceu chuvoso e frio.
O pessoal mais experiente que também estava treinando, passavam por mim e perguntavam como eu estava e falavam frases incentivadoras.
Última volta das 5 que fiz…USP vazia…só os amigos e meu marido me esperavam. Cheguei, alívio e confiança.
Mais uma etapa concluída… tá chegando!
Treinada, com 9kg a menos, panturrilha e pés sob controle… a preocupação agora era a ansiedade.
Chegamos em Amsterdam no dia 14/10…a maratona era no dia 18/10.
Previsão de frio e chuva… mudança de estratégia na roupa da corrida… santa mudança que só descobri no km14.
Cheguei no estádio olímpico, passei pela faixa dos 500 metros finais e pensei “daqui a pouco passarei por você ”, me despedi do maridão ainda fora do estádio…preciso ficar sozinha pra me concentrar e fazer meu ritual.
Largada… a brincadeira começa… não sinto os dedos do pé, tamanho vento gelado e garoa… vamos lá vai esquentar.
Passa por mim o pacer das 4:30… uma voz dizendo vai, a outra falando aguarda ainda é cedo…realmente era cedo tinha acabado de passar ¼ da prova.
Km 14 entrada do percurso que beira o Rio Amstel… agradeci meus instintos por ter mudado de roupa de última hora… campo aberto, rio, grandes espaços entre casas que tinham poucas… percurso de dois lados… preciso sobreviver esses 9kms… os pensamentos vacilavam , mas resisto e penso que sou mais forte. Passo os 21km ainda neste percurso.
Segunda parte da prova, mais aquecida, tento manter o pacer… arrumo um parceiro para correr lado a lado…
Me divirto… bato na mão das crianças, faço pose pra fotos… peguei até marshmallow (que não comi) só porque duas garotinhas estavam ali nos prestigiando.
Passo os 36km e penso é agora…só falta 6km…to preparada. Encontro meu parceiro Samuca, e continuo no objetivo de manter o ritmo… O corpo começa a resistir… passo a fazer contagem regressiva “menos 1km”.
Entro no Voldenpark, Km40… meu Deus só falta 2km195m… a emoção começa a tomar conta, desabo a chorar copiosamente, soluçar… as pessoas na rua chamam meu nome e gritam frases de apoio.
Km 41 ouço alguém gritar meu nome… Guga e Marcela…”força Sil só falta 1km’… nossa que emoção.
Visualizo a faixa dos 500 metros… entro no estádio… que felicidade que se mistura com uma pontinha de tristeza… acabou.
Sou uma maratonista!